sábado, 25 de junho de 2016

A era das reações midiáticas

Vivemos numa época de reações midiáticas. As palavras, o vocabulário, as nossas expressões naturais são substituídas pela terminologia jornalística. Não falamos mais na esperança de sensibilizar o outro. Esperneamos para chamar sua atenção. 

Não se trata da queixa comum da corrida por likes no facebook, mas sim da falsa escandalização e polemização sobre certos temas sensíveis, que parece ter o poder de transformar alguns indivíduos em cruzados estapafúrdios das causas perdidas.

Em nome de suas causas, nenhuma possibilidade de senso de humor é aceitável. A seriedade de sua luta heróica o impede de qualquer possibilidade de alívio cômico, de relativização, de suavização e também, vejam só, do próprio realismo.Fabricam para si uma espécie de indignação que amplifica os aspectos negativos do seu infortúnio muito além do que realmente lhes sucedeu. Uma espécie de sentimento construído especificamente para aquele momento, que depende de um espectador e de um palco, além de, claro, da possibilidade de obter uma ampla reverberação. 

Discutem com o outro, sim, mas na esperança de convencer mais a si mesmos, porque precisam dessa crença para poderem... continuar discutindo! E em resposta a isso nós, os saudáveis, erguemos também com as armas deles a nossa defesa. Tornamo-nos assim cada um como uma pequena imprensa particular, selecionando notícias, resumindo os textos que não podemos digitalizar, realizando pequenas edições, nem sempre honestas, nos artigos que enviamos, na esperança de construirmos o nosso próprio sentido do mundo. 

Nos sentimos seguros, pois nos mantemos informados. Nos sentimos modernos, pois estamos conectados. Nos sentimos ativos, pois estamos lutando por aquele pedacinho da verdade, no qual acreditamos. Ficamos, por assim dizer, idiotamente felizes.

Mas aí também reside uma perda, individual, só nossa, quando insistimos na versão midiatizada de nossas emoções, e nos recusamos a abrir mão de nossa indignação artificial para passarmos a defendê-la de toda a tentativa externa e interna de suavização, de relaxamento, da possibilidade de baixar a guarda por um minuto e de se permitir uma visão de mundo, quem sabe, um pouco menos dividida em extremos e mais rica de possibilidades.

E essa é a nossa maior perda no processo: em troca do ganho obtido com o crescimento do número de indivíduos dispostos a assumir valentemente os seus postos como combatentes da verdade em suas centrais de imprensa particulares, obtemos por sua vez a diminuição daqueles que poderiam nos tornar abertos às visões de mundo plurais.


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